Por Alex Pipkin
A conversa começou com mísseis e terminou com mantras.
Como toda boa reunião de brasileiros esclarecidos, o mundo em chamas, mas a fé no Lula intacta.
Debatia-se, num grupo seleto — em sua maioria da comunidade judaica — o atual conflito entre Irã e Israel. As ameaças teocráticas, a escalada geopolítica, a indiferença da ONU. Tudo civilizado até a referência de Lula. E, como sempre, o foco saiu das fronteiras do Oriente Médio e entrou na selva da devoção tribal brasileira.
Comentei que, para mim, Lula, além de bajulador de tiranos, é abertamente antissemita e incontornavelmente corrupto. Baseado em discursos, omissões, delações, provas. A resposta? A ladainha: “Lula não é antissemita. Tampouco corrupto”.
Não foi argumento. Foi missa lulista de sétimo dia da razão.
E não, prezado leitor, não sou bolsonarista. Nem de “extrema-direita”. Sou liberal. Contra qualquer coletivismo fracassado — seja de esquerda ou direita. Quem me lê sabe. Eu não defendo salvadores, nem mitos tropicais com adesivo sindical.
Mas o que me impressionou não foi o lulismo. Foi a conivência de quem deveria saber mais. Gente informada, racional, lúcida,que, diante de um Lula que afaga o Irã, acena para o Hamas e silencia sobre o Holocausto, ainda sussurra: “Diplomacia”.
Não é dissonância cognitiva. É desonestidade emocional.
Foi aí que entendi. Não estamos lidando com política, mas com neurociência primitiva.
A mente lulista não é ideológica. É tribal.
Não busca verdade, busca alívio. Não quer pensar, quer pertencer.
Os fatos são acessórios. Servem, se reforçam a tribo. São descartados, se a ameaçam.
A psicologia evolutiva e a neurociência social já revelam isso: o cérebro humano não foi feito para buscar a verdade, mas para manter a lealdade. A razão, muitas vezes, serve para justificar crenças, não para corrigi-las.
Em português direto: o lulista típico não acredita em Lula por causa dos fatos. Acredita apesar deles.
Admitir que Lula é corrupto seria mais do que mudar de ideia, ou seja, seria romper com uma identidade. Sair da bolha afetiva, encarar o vazio e admitir: fui enganado por um messias de barro.
A maioria não suporta isso. Prefere preservar o mito e rebater ou insultar quem ousa dizer o óbvio.
O resultado disso tudo é que o Brasil virou uma distopia cognitiva, trajado com paletó, crachá e orgulho de ser idiota útil.
O sujeito vê Lula bajulando um regime que quer apagar Israel do mapa e chama de “mediação”. Vê malas de propina, confissões, julgamentos, e diz: “perseguição”. Vê um país afundando e grita: “volta, companheira Dilma!”.
Não é ignorância. É vício. Vício em autoengano.
Enquanto o mundo encara a brutalidade iraniana e o direito de defesa de Israel, Lula faz turismo moral entre Teerã e Caracas.
Chama Israel de genocida, relativiza terroristas, inverte os papéis, encenando seu eterno sotaque de vítima iluminada.
Mas o problema maior não é ele.
É quem ainda aplaude.
A mente lulista não busca justiça. Busca confirmação. Busca manter sua narrativa emocional à base de slogans e ressentimento.
O lulopetismo não é uma ideologia. É uma religião secular da absolvição perpétua.
E Lula não é um ex-presidente. É um tótem.
E, como todo tótem tribal, quanto mais frágil, mais ferozmente é defendido.
Enquanto isso, a realidade sangra.
A economia derrete, o investimento foge, o agronegócio é hostilizado, a indústria apodrece, o funcionalismo cresce, e o cidadão desaparece.
Mas a tribo segue em êxtase.
Porque pensar exige coragem. Pertencer só exige slogans.
E assim seguimos, à beira do precipício vermelho: entre alianças com teocracias e palmas para a censura, entre o colapso educacional e a beatificação da ignorância, entre a fuga dos fatos e o conforto tribal.
Até o último míssil.
Ou até o último tótem cair. E, com ele, a última ilusão de que isso aqui ainda é uma democracia adulta e sadia.